sexta-feira, 17 de julho de 2020

Apetece-me

Apetece-me gritar, mas não posso...
Não controlo remanescências do passado
Aquelas que se evocam na apoquentação
Na memória de vocábulos dissolvidos

Apetece-me gritar, mas não posso...
A culpa parece uma interjeição inteligente
O desdém conquista a batalha
A desculpa não inspira condolências

Por caminhos ébrios surge a palavra
Aquela que se espera, contudo falaciosa!
O ser errante assisa dissonante...

Apetece-me terminar com os cigarros,
Aqueles que outrora existiam sobre a mesa
Foram consumidos pela inquietude...
Em mim jaz o silêncio dos arrependimentos

Apetece-me chorar, mas não consigo
Apenas escrevo sobre linhas tortas
Escutando o fragor envolto em lençóis,
Aí preserva-se a tranquilidade de outro!

Prevalece a insegurança de quem escreve
Em palavras arcaicas proferidas por outro
No entanto invocadas pela mesma sobriedade
Aquela que desvanece com o tempo

Apetece-me...

Gonçalo Camões
18/07/2020

domingo, 30 de dezembro de 2018

so they say

A vida é tramada... they say... aqui estou em sentado na sala dos meus pais a fazer uma retrospecção da minha vida... uiii e como foram tramadas estas semanas, estas últimas semanas em que eu tanto pensei e remodelei a minha vida! Começo a pensar que sou um ser plenamente insatisfeito, nunca me contento e só quero aquilo que não posso ter.
Nós achamos que conhecemos a nossa pessoa, mas e quando não conhecemos? Às vezes dou por mim a pensar que quero uma coisa e afinal a vida surpreende-me, o meu "eu" surpreende-me só porque sim, porque é incontrolável, egoísta e supérfluo e ninguém é demasiado bom para o preencher.
Engraçado não? Do alto acho que sou uma pessoa bastante comunicativa, sociável, no entanto no que toca a relações, puff.. há sempre algo que me prende. Devia ir ao psicólogo, mas sinceramente escrever é mais terapêutico e não me deixa os bolsos vazios.
Ja fizeram uma retrospecção pensaram que ficaram demasiado danificados para conseguirem "voltar a amar" ou simplesmente quando ficamos sozinhos temos dificuldade em deixar alguém invadir o nosso espaço? Talvez o facto de eu chamar invasão seja a real razão pela qual eu não deixo entrar pela porta.
Cada vez tenho menos vontade de passar pelo processo de conhecer a pessoa, de "namorar", todo um "flirt" que existe precoce e que no final já sabemos que não vai dar em nada.
Hoje em dia nós não fazemos nada porque tudo está a beira de um clique. É tão facil conectarmo-nos a alguém com um simples "swipe" para a esquerda ou para a direita, essa é a questão!?
E o que aconteceu àquelas coisas bem à filme onde entravamos num sitio os olhos cruzavam e de repente pensávamos "de onde é que tu apareceste, quem és tu ser misterioso que eu quero conhecer?"... perdemos essa realidade simplesmente porque sim, porque gostamos de simplificar e o que interessa na realidade é seguir as tendências.

Desabafos... cansei-me

Gonçalo Camões
31/12/2018

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

F U T U R O

Já é tarde, não sei porque sempre tive propensão a escrever melhor à noite. Talvez seja um ser notívago cujo o cérebro se activa ao entardecer. Os últimos dias têm sido uma loucura, às vezes sento-me e penso “será que estou a tomar as decisões mais correctas?” Tudo é sempre uma incerteza, mas o que é certo é que “quando se fecha uma porta algures se abre uma janela” e que “quem muda, Deus ajuda!” ainda que perdoem-me mas, religião nunca foi o meu forte. 
A vida dá muitas voltas e o que é verdade é que até há umas semanas cheguei a senti-me o ser mais miserável à face da terra, apesar de eu nunca o demonstrar, tento sempre manter a minha atitude positiva e pensar amanhã é outro dia! O que é certo é que no espaço de uma semana pareceu que a minha vida se endireitou e tudo aquilo que eu menos esperava veio até mim! No geral sou uma pessoa fria, mas com coração mole... não é difícil derrete-lo até uma raposa poderia cativa-lo. 
Além de todo o amor que recebi devido a alterações ocorrentes na minha vida profissional, começo um novo capítulo e na realidade não sei muito bem como gerir as minhas emoções... já alguma vez foram assoberbados por um sentimento tão forte que nem vocês conseguem perceber de onde vem? Como se fosse um íman que vos atrai de uma forma natural, simplesmente como se da gravidade da terra se tratasse? Nos meus 26 aninhos de existência eu pensei que já tinha sentido tal coisa, apesar de tudo não sei se não me recordo ou se realmente nunca o senti. Já amei, amei muito alguém, mas efectivamente não tenho ideia de ter experienciado algo assim como agora... parece que sufoco, que em algum momento vou explodir e por mais que queira o meu pensamento não desconecta. É isto aquilo que chama paixão? Será isto o caminho para aquilo pelo qual antespassados meus gritavam “é fogo que arde sem se ver!?”
“Quando a esmola é grande o pobre desconfia”, após dois anos e inúmeras tentativas de coneccção com outros seres que não eu sempre desisti, aprendi a estar sozinho, a ganhar um conhecimento sobre mim próprio que até então tinha perdido ou nunca adquiri. Às vezes pulamos passos na nossa vida, mas o que é certo é que eles são importantes e têm de ser vividos. Tudo vem quando menos se espera. 
Não sei de onde abunda esta felicidade repentina, mas estou apaixonado, realmente enuco como quando vemos o filme romântico e dizemos “por favor que óbvio” ou “tanto mel eu nunca iria fazer isto!” e damos por ela a fazer exactamente aquilo que aqueles dois actores que contracenam fazem mas na vida real. Uma coisa é certa a minha vida dava um bom filme com direito a cenas dignas de uma bela comédia romântica. 
Posso dizer que até agora estou numa das melhores fazes da minha vida, pela primeira vez em muitos anos sinto-me completo e realizado, não podia estar mais feliz! 
Apenas digo algo que parece cliché! Arrepende-te do que fazes, não te arrependas do que não fizeste! 
 
Com muito amor, 
Gonçalo Camões
4/09/2018

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

páginas soltas


Olho para uma folha em branco e não sei que o escrever. Minha alma dita versos e palavras que ecoam, mas no meio da escuridão é difícil obter alguma conclusão.
Nós vivemos de acordo com aquilo que nos foi incutido, com os ideais que nos foram sedimentados, os quais ponderadamente vamos questionando de forma a evocar a nossa própria essência, o nosso “eu”.
No meio de malas ensacadas, enroladas fugazmente no rescaldo dos incêndio, vejo a minha vida passar, de mala para mala, cada uma contando uma história, um determinado período sucinto da minha breve e curta vida. Onde andaste tu? Que fizeste ao teu próprio actor nessa contracena ousada?
O pano cai e o baque é de tal maneira forte que abala todo o som do drama. Ouve-se o silêncio, o silêncio de uma quimera dilacerada, cuja culpa tem fonte arcaica. Onde andaste tu? Que te diziam os teus olhos? Cegos com certeza. A porta abre-se, a cortina sobe, eis que surge a oportunidade, eis que surge a bonança, a paz de espírito, o equilíbrio... viras-lhe as costas, porque simplesmente o que tu idealizaste foi o amor. Onde andas tu?
Amor... amor... amor... torna-nos mais fortes, faz-nos mover,  motiva-nos. Tretas diria eu! Porque me parece antes o contrário? Porque não a dor? Sofremos, mas quando nos erguemos somos mais fortes, aceitamos realidade de outra forma, crescemos, porque o mundo não é bonito e os contos de fadas infelizmente são isso mesmo, contos. São formas de a sociedade incutir regras, formas de estar, em que está patente o bom e o mau, o herói e o vilão, sendo que o bem prevalece sempre. Que bem é esse e quem o designou de tal forma?
Rejeito oportunidades, recuso bem-quereres que me abraçam, simplesmente porque não pensei mais além, esqueci-me de ser feliz.  E nesta panóplia qualquer um entra, porque alguém assim o permitiu...
Olho para trás, para o tempo em que o oceano surgia por entre dunas, por entre águas cingidas, no silêncio, no sigilo, onde o sorriso e brilho de tais olhos era natural.  Ficaste ai? São pensamentos soltos de um passado sem retorno...
Olho a minha volta... as malas ainda aqui estão.

Gonçalo Camões
11/12/2013

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Saudade


Escrevo sem saber porquê,
Porque a alma me dói
E o coração, não sente,
Porque a vida curta me vê

Âmago do meu ser lunático
Porque o carinho dele foge
Em busca do mal alheio

Eterna saudade dos dias áureos
Em que tal ser me contemplava
Buscando a minha essência em seu desejo

Nada Resta do seu bem-querer,
Apenas memórias desiludidas
Apenas restos dos tempos vividos.

Gonçalo Camões
10/10/2013

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

dor


Nunca pensei que me fosse magoar tanto... sinto-me sozinho, tão só como nunca antes. Há uns meses atrás acreditei em tudo aquilo que era o meu ideal, agora sinto-o deitado no lixo. Porquê? Que tenho eu de errado que tudo foge de mim por mais que eu me esforce.  Sinto-me feito em pedaços como se tudo aquilo pelo qual eu lutei se tivesse quebrado com apenas um toque. Expus-me, dei de mim, deixei conhecer, ofereci-me, falei sobre aquilo que me inquieta no meu passado, todas as batalhas que ganhei, todo o mal que surgiu em mim e agora onde estão as forças que tive nessas alturas. Só me apetece escrever no escuro, onde estou sozinho, numa penumbra e numa dor que não passa, de cinco em cinco minutos as lágrimas correm, porque é que eu mereço isto?
            Tudo aquilo que eu menos queria na vida era ser igual a outros que me puseram aqui, que me trouxeram ao mundo e cada vez me sinto mais parecido com eles, até na forma como reajo, será que não sei mostrar o que quero? Porque é que eu me dou demais, nunca merecem que eu me dê! Quero desaparecer, seria mais fácil, pelo menos escrever acalma-me, posso dizer tudo o que sinto, sem ser criticado, julgado, sem achar que exagero, deixem-me, estou a sofrer e quando é o coração que o dita pouco podemos fazer, só esperar que passe, ai mas a dor é tão forte, quase parece que não vamos sobreviver. Porque deixaste de me amar?
            Olho para trás, para quando correste por mim, não tiveste medo de me perder nessa altura? Não sentiste a minha falta? Porque é que quando me tens te fartas? Eu não sou um objecto.
            Dói tanto, dói tanto que o teu bem-querer por mim se tenha desvanecido, mesmo depois de eu dar tudo o que tenho pela segunda vez. Só quero chorar. Eu já sei como a história acaba.
            Contos de fada são mentiras que nos contam em crianças para nós pensarmos que o mundo é algo agradável, bom, então porque é que os adultos o complicam tanto. De que vale acreditarmos no amor? Quando acaba dói mais do que dois anos de amor, porquê? Parece que nos espetam uma faca no coração e vão torcendo e torcendo até torturar e morrer mos lentamente.
            Só queria que tudo voltasse ao normal, mas cada vez parece mais distante.


Gonçalo Camões
19/02/2012

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Primeiro Plano


            Acabei de ver o filme Silver Linings Playbook que nostalgia me consome ao ver finais felizes e ao perceber que estou triste. Porque é que é tão complicado o amor? Custa assim tanto acreditar, entregar o corpo, entregar a alma, saber que aquela é a pessoa cuja a vida é até mesmo mais importante que a nossa, que daríamos qualquer coisa só para tê-la ao nosso lado. Sinto-me a abdicar de tudo, a abdicar de tudo aquilo em que acredito em nome do amor, em nome do bem-querer que lentamente me vai deixando insatisfeito e consumindo a minha mágoa.
Não escolhemos quem amamos, mas cada vez mais começo a aceitar que os finais felizes só acontecem nos filmes. Quero-te, não te quero... só te quero quando estás longe, gosto de viver sozinho, é a minha independência... mais uma noite sem sono em que as palavras ecoam na minha cabeça. Porquê?
Sempre idealizei ter a minha casa, construir uma relação baseada no sentimento de crença e amor mútuo, de entrega, de fidelidade, de chegar a casa e saber que aquela pessoa está lá à nossa espera no “nosso” sofá, aguardando por nós para nos dar carinho. E onde está esse ideal agora? Porque é que o teu amor não é suficiente ao ponto de me quereres a teu lado de construirmos algo nosso? Onde é que está a piada de construir tudo sozinho e quando queres estarmos juntos.
Olho para a casa onde agora escrevo, nas fotografias penduradas na parede representado momentos de felicidade, olho para esta casa construída com amor e carinho, olho para a cama que agora partilhamos e que chega a noite sabe ter-te ao meu lado e saber que estás aqui, onde está isso agora? Sinto tudo colocado no lixo do dia para a noite como se nunca tivesse acontecido. Tanto que isto me magoa, tanto que isto me afecta, tanto que me corrói e não posso falar porque o meu amor por ti fala mais alto. Que raiva! Será que sonho assim tão alto?
Queria que uma vez na vida fosses homem com h maiúsculo e não te reduzisses às atitudes infantis de achares que uma relação é perfeita porque estamos separados. Queria que uma vez na vida dissesses quero-te aqui comigo ao meu lado, fica comigo porra, em vez de apenas ficares. Sinto-me um segundo plano. Nunca vou ser o teu primeiro plano não é? É demasiado para ti tamanho compromisso. Nunca te impedi de nada, não percebo porque é que me pões tão à parte como se eu fosse um entrave aos teus objectivos. Sou o primeiro a dizer-te vai, faz.
Se calhar só assim vais aprender que mais tarde ou mais cedo as decisões que tomamos na nossa vida têm consequências e que à escolhas que uma vez tomadas não têm retorno.
Cada vez me enfraquece mais o meu bem-querer de tão minado que o estás a deixar, nem os teus olhos de tristeza e preocupação comigo me enganam, estás preocupado porquê? É isto o que tu tanto anseias, é tudo o que queres, afirmas que não consegues viver no meu ideal, eu só tenho pena do ter idealizado contigo e por me ter entregue desta maneira a ti, porque agora sim, sei que não me mereces.
Dorme agora e descansa, amanhã talvez seja tarde demais.

Gonçalo Camões
5/2/2013