quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Quimera


Sentei-me prostrado na cama.O meu mundo parecia irreal e via-me como um quadro de um filme em que a acção decorre em câmara lenta.
Estava escuro não conseguia pensar em nada, a apatia que me consumia deixava-me alucinado. Estaria louco? Viria finalmente o meu tão esperado momento de loucura? Estariam as minhas preces a ser ouvidas? Viriam buscar-me?
Os olhos turvos fixavam agora o espelho à minha frente. Quem era aquele ser que ali se dispunha à minha frente? O seu rosto era-me familiar, contudo não o reconheci.
Dois braços abraçaram-me, sentia o peito de alguém junto às minhas costas... observei o espelho em busca de que fosse. Devia estar cego não estava lá nada, a não ser aquela face que a minha memória evocava. Alguém se encontrava ali... eu pressentia o batimento do coração, a força daqueles braços a envolverem-me, a cabeça inclinada sobre as minhas costas ternamente. Estaria eu a clamar por quimeras inatingíveis? Eu estava cego,o escuro dissipava aquela forma, cujo o toque eu reconhecia, tal percepção gerava-me palpitações.
Fui puxado lentamente ficando completamente deitado naquele leito. Aquele ente que eu não avistava incitava-me pra junto de si e estendia a minha cabeça sobre o seu peito, que suavidade, que saudade... Estaria a sonhar? Estaria cego? Seria humano? Seria real?
Eu conheci aquele toque, aquele toque que me dava segurança quem era? Tocavam-me, mas eu não o via.
Os meus olhos começaram a cerrar-se e eu continuava embutido naquela figura invisível. Na serenidade adormeci.
Quando tomei consciência de mim apreendi que sonhava. A quimera havia tomado conta de mim.

Gonçalo Camões
25.02.2010

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Causas da Decadência do Ser


É lamentável de certo, contudo cada vez mais é notável o abatimento que recai sobre cada indivíduo. Existem várias razões para esta questão, que há-de no fundo tornar-se na rotura de um meio social.
Quando entramos num hospital e vê-mos um parente nosso, idoso, desfalecido sobre uma cadeira, apartado dos familiares, rodeado de profissionais especializados que não exercem a sua função é de facto triste e faz-nos sentir impotentes, inúteis. Porquê? Não há razão aparente, apenas se sabe que essa é uma das causas. Agora vos apresento eu aqui o meu caso, referindo-vos um caso meu. A ruptura dá-se dentro do próprio meio familiar quando uma pessoa, como a minha avó, necessita de ajuda e seres do mesmo sangue viram-lhe costas, recusam-lhe socorro. Ora bem torne-mos esta exposição mais pessoal, falando na primeira pessoa. “Cheguei ao hospital, após de enumeras tentativas de contacto à minha mãe e de uma acesa discussão com o meu pai em que eu expus as minhas preocupações que aparentemente não foram ouvidas, vejo-me sozinho, questionando-me onde se encontram os meus avós, dirijo-me a um balcão de informações, esqueço o cenário à minha volta, viro costas e vejo a minha avó, os pés mal suportavam o seu peso, agarrada por um braço do meu avô, desprovida de qualquer ajuda hospitalar e sentam-na numa ordinária cadeira sem condições. - Enquanto ela se senta numa imprópria cadeira, outros afogam as suas mágoas, outros esquecem-se dos filhos, outros choram, eu choro. – Tomei consciência do cenário à minha volta quando uma mulher desmaia à minha frente e é levada para a sala de reanimação. Tento acompanhar a minha avó, contudo só é permitida a entrada de um acompanhante, vejo-me preso num átrio de um hospital, em plena madrugada, sozinho fumando cigarros e bebendo café para me manter acordado. Isto é com certeza muito humano!
Evoco agora outras belezas acres, aclaro outros desassossegos, atrocidades de outros seres. “
A decadência de cada um de nós gera-se sempre de forma diferente, para uns pode ser um vício, para outros uma depressão e quem sabe ainda a falta de inovação que existe hoje em dia.
Existem estados como o de alcoolemia, derivado de um sestro ao álcool, que nos podem levar a cometer grandes loucuras, o uso da razão é inexistente, somos autênticos asnos guiados por uma corrente sanguínea contaminada. – “Pai, porque perpetraste tal acto?” – O sujeito torna-se alienado, cega, deixa de ver o mundo real. – “Depois do abandono de um ente querido no hospital, vejo-me sozinho, com dois avós. Abandona-mos o hospital de madrugada e há hora que o galo canta, desço sucintamente as escada de um prédio abraçando a minha avó para que esta não caía. Onde estavas tu? Não sei, nem uma notícia, chego a casa e desfaleço sobre a cama.
A minha vida parou nos meus sonhos, contudo no real geravam-se tormentos. Eis que acordo, alguém é preso. E eis que entra a demonstração do estado de insânia. Ir em contra-mão na estrada, apresentando dois virgula sete de álcool no sangue é óbvio que dá nas vistas. Ora criatura é presa, solta e mandada para casa num táxi, tendo de se apresentar no tribunal à tarde. Em vez de cumprir com as indicações que lhe são dadas, enfia-se num hotel, não atende chamadas e dorme profundamente. O resultado é satisfatório! Ninguém sabe dele, não se apresenta a tribunal, existe uma família preocupada. E eu? Eu volto a ser o réu, o que tem culpas no cartório. Batalho, sai-o do meu estado de quimera e luta contra a corrente mais uma vez. “
A decadência está em cada um de nós e influência a vida dos outros. Estas são as causas da decadência do ser.

Gonçalo Camões
24.02.2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Nobody Knows Me

Tão certo e tão inconcreto, tão certo como eu chamar-me Gonçalo, mas pouco mais ser isso que conhecem realmente sobre mim. Todos me julgam, ninguém sabe a verdade, pois essa encontra-se perdida, modificada... cada pessoa acrescenta um ponto. Então onde pára o axioma? Pelos vistos ninguém sabe responder a uma pergunta tão concreta, visto que ninguém no auditório se dignou a erguer-se e a impor a sua vontade.
Família... palavra tão presente no dicionário, tão esclarecida, tão padronizada por uns, mas tão irreconhecível aos meus olhos. Talvez tenha uma vaga memória do que seja, se procurar pelas gavetas da minha memória, por trechos, por uma puerícia distante sob a qual vivi em tempos. Agora o que está corrompido sobe à tona da superficie, todos se isolam na sua verdade, todos têm aversão a mim, todos me negam... ninguém me conhece. Criticar e saber ouvir criticas é algo bom, porém apenas devemos comentar quando algo é credível, quando as coisas que o nosso pequeno ouvido capta não vão para além de histórias fantasiadas, de quimeras irreais... algo que pelos vistos ninguém sabe fazer.
Disseram-me que me visse ao espelho... questionaram-me sobre o que via, quem eu era, a minha resposta foi a mais sincera... Eu sou ninguém!
Mais uma vez encontro-me perdido, à deriva... as mãos apareceram, agarrei-as, mas elas fugiram. O costume! Apenas sabem apontar-me o dedo... ninguém me conhece.
Aquela voz paterna, aquela mesma voz que à horas atrás me havia dito o quão inteligente eu era, o quão capaz eu era, o quão lutador eu era e o quão sonhador eu sou... desapareceu. A seguir a culpa era minha, havia de ser noticia de jornal do próximo dia - "Pai desaparece após conversa com filho!" - certamente seria um título que daría mangas para escrever e no qual eu seria o príncipal suspeito, segundo havia de constar no artigo é claro. Mais uma vez seria eu o julgado, apontar-me iam o dedo, a sentença seria lida. Não me beatifiquem! Santos não existem, tal como pecadores para mim não passa de uma palavra sem sentido.
Eis que o réu, eu, se ergue. Culpado, assim dizia a notificação, contudo esta vinha isenta de provas... julgamento mais justo e concreto não haverá. Ninguém me conhece!
Agora fico eu pensando por mim, lutando mais uma vez sozinho, tendo-me a mim e a mim mesmo, pois algo que é verdade e se há-de tornar absoluto é que... ninguém me conhece!

Gonçalo Camões
18/02/2010

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

NO SENSE!



Às vezes recordo o tempo, recordo escolhas, recordo emoções, recordo a minha vida... se é que ela existe. Neste momento a veracidade das minhas palavras é oculta, nem eu sei o seu grau de maturidade. Por vezes ponho-me a recordar se o percurso que tomo, as acções em que invisto, os momentos em que dou um pouco de mim às pessoas serão significantes. Já pensei tantas vezes e não encontro resposta, coisa que para mim não é novidade! Será que toco realmente as pessoas? Sou um sonhador e tento seguir o que me faz feliz! Torna-se um bocado repetitivo! O problema, no meu caso, é quando existem outros seres humanos envolvidos, seres que não quero magoar, pessoas que me fazem ter alegrias. Parece que nunca tomo a decisão certa, pois acabo sempre por ferir alguém e deixam de me ver com os olhos que viam. Passo a ser má pessoa, um "filho da mãe" desculpem-me a expressão. Não quero ser assim, mas como é possivel balançar as coisas? Como é possivel que não nos deixem de visionar com tais olhos? Sinto saudades! É uma verdade... então porque não consigo decidir entre o seguro e o inseguro? Que me faz falta? Tantas questões, são questões e mais questões! Todas sem resposta! Todas definitivamente cogitadas! Todas me geram um conflito interior, com o qual cada vez mais tenho dificuldade de lidar! Só queria ter matéria por onde começar, uma infima resposta ou ajuda que fosse... talvez aí me afogasse menos em cigarros! Já pensei em tantas coisas. Fugir para longe, desaparecer... parece-me o ideal perfeito! Contudo é mais difícil do que muitos julgam. Eu sei... eu sei... é preciso ter força de vontade... como tudo na vida! Sei que sempre fui um lutador, mas sinto que aos poucos e poucos vou enfraquecendo a minha vontade. Estou cada vez mais fraco e ninguém percebe e embora tenha vontade de tomar uma decisão... não consigo, existe sempre outro alguém. É triste!
No dia em que eu desparecer, então todos ficarão melhores... acredito que alguns sentirão a minha falta... talvez eu volte, talvez não... contudo ainda se trata tudo de uma irrealidade, uma simples quimera, algo que me levaria à felicidade... uma vida nova! Aguardo por dias melhores!

Gonçalo Camões
2/02/2010