quinta-feira, 29 de abril de 2010

Reflexo.


Descia... lá passava ele pelos candeeiros que se expandiam pela avenida fora, despreocupado fumava o seu cigarro pensativo, envergando por atalhos... era seu hábito, queria chegar a casa o mais depressa possível. Observava aquele ser todos os dias, o seu andar, os óculos de sol que, por vezes, escondiam os seus olhos cobertos pelo manto negro das olheiras, o arrastar das mãos, na realidade parecia um autentico manequim a andar na rua. Por vezes um olhar curioso espreitava sobre si, mas continuava alheio a isso.
Eu era o seu principal seguidor, especulava minuciosamente cada movimento seu, a razão não me vinha à cabeça, talvez quisesse ser como ele, intensamente descontraído.
De súbito vieram-me questões à cabeça... mas porque raio, porque raio havia eu de ser tão nervoso, tão absorvido em cógitos que não merecem tanta atenção, porque não havia eu de ser mais egoista? Seria errado moralmente? Olhava para ele e tudo parecia fácil, se calhar até era. As soluções são fáceis, nós é que tendemos a gerar complicações. Cliché!
A noite caíra, perdera aquele ser na escuridão, engolido pelas sombras da noite. Sem luz não há reflexo.
Quando dei por ela lá me olhava eu ao espelho, seria eu? Que medo, em que me tinha eu tornado. Embebi o meu cérebro em pensamentos usuais, tomei uma decisão. Quero aproveitar a vida, se magoar pouco me importa, vou chegar onde quero, agarrar-me mesmo que saiba que posso sofrer as consequências, mesmo que uns me esqueçam, mesmo que me usem, mesmo que magoe outros, vou ser egoista, mas ter compaixão, vou ser radical, mas moderado, não cheguemos a cepticismos, afinal acredito que algo nesta vida há-de ser concreto... vou amar, vou ser amado, vou desistir e resistir, vou ser feliz. Quem me vai impedir? Tentem, testem-me, façam-me sofrer... no final quem perde não sou eu. Vou chorar sempre que vir um filme, vou rever a minha vida num livro através de uma personagem, vou dar-lhe a mão quando vir o filme da minha vida, qual deles será?
Olhei... o espelho continuava lá.

Gonçalo Camões
30.04.2010

terça-feira, 27 de abril de 2010

Rua d'outrora.


Olho para o relógio, aponta uma e trinta da manhã. Fico estático... porque é que me fazem perguntas às quais eu não quero responder ou pensar?
Embuti o meu pensamento noutras matérias, tinha um propósito de escrever este texto... perdi-me.
Existe alguém realmente preparado para mim? Alguém que consiga ver "as minhas verdadeiras cores?" Se é que elas existem, porque sinceramente às vezes sinto que as pessoas me tratam como um objecto, com um propósito específico.
Eu estou melhor é verdade, estou a conseguir singrar naquilo que gosto.
Às vezes dou por mim a passar na mesma rua de ontem, em que o sol se punha e o meu coração batia, não vejo ser frio, não vejo ausência do meu ser, sou simplesmente eu, distraido e sorridente. E que rua essa, rua que me ampara, que me abraça, rua que me ama, simplesmente, porque sim... sem questão, sem mas, sem porquê, sem consequência. Provavelmente o que digo é um bando de palavras sem nexo, pouco me importa, eu compreendo. Pergunto-me se essa rua pela qual a minha mente vagueia me envia mensagens, se comporta significados em cada gesto ou se o meu corpo projecta fragmentos de anseios... para mim na vida tudo tem um significado.
Envolvo-me em tanto mistério, em tanta virtude, esperança, será justo? Só quero uma vida melhor. Que desabafo mais estúpido, contudo verdadeiro.
Eu já morri, pelo menos interiormente, porque o meu amor já se espalhou, já não consigo agarrá-lo.
Este foi provavelmente o pior texto da minha vida de um ponto de vista literário, mas pelo menos sinto-me livre.
Até amanhã, encontro-me na mesma rua.

Gonçalo Camões
28/04/2010

P.S.
Have you ever been in love?

domingo, 25 de abril de 2010

The Ellie Badge.


Ora visto que as minhas palavras já não chegam e recorro sempre ao mesmo tema deixem que vos diga que hoje estou estranho. Engraçado, visto que a maior parte do tempo sou estranho. Acho que não existe alguém que me conheça verdadeiramente, mas também não considero que isso seja algo mau, até porque refiro-me à minha essência. Aqui vão umas palavras para ti meu amigo...
Chovia... do outro lado da sala irrompia um zumbido ensurdecedor... era o telefone que tocava. Atendi e escutei atentamente a tua voz. Desliguei e esperei que a campainha toca-se. Não me movi. A campainha tocou, lentamente levantei-me do meu descanço e engarrafado em alegria perguntei «quem é?» e tu respondeste «sou eu!» e abri. O teu sorriso "desajeitado" emergiu diante de mim, o teu cabelo escorria água. Entraste e eu fiquei a olhar para ti.
-Não queres ir tomar um banho? Ficavas melhor? Estás todo molhado ainda te constipas. Eu dou-te uma toalha. Com o banho sempre ficas mais quente.
- Pode ser. - Sorriste-me.
O resto da tarde ficamos ali, naquele sofá, vendo filmes... tu sorrias, eu sorria, estavamos felizes.
Diz-me lá... porque é que o teu olhar já não brilha? Dói-me tanto ver-te assim e sentir-me impotente, sem saber como te dar a mão. Eu tento ajudar, tento perceber-te... faço o que posso, mas quero agir e aliviar a tua tristeza.
Não tenhas medo... há sempre uma solução. Olha para mim, eu tenho medo do escuro quando me sinto sozinho, contudo há sempre uma luz que me socorre, que me deixa seguro. Posso ser a tua luz se quiseres.
Existem tempos maus, tempos de desagrado, tempos em que nos sentimos perdidos, eu já me senti assim, aqui entre nós, ainda me sinto às vezes, às vezes parece que me falta algo, mas não encontro resposta, serei infeliz por isso? Acho que não, sabes porquê? Ainda não desisti.
Quem me dera que tudo fosse fácil, que tudo fosse bom, que nada, mas nada me interrompesse o meu caminho para a "felicidade"... espera... as coisas são fáceis, nós é que as complicamos.
Quem me dera entender-me algum dia!... espera... hei-de entender, só não cheguei lá ainda, mas vou à luta.
Amigo eu estou do teu lado... sempre que precisares estou aqui, basta tocares à campainha, eu dou-te toalhas, tomas um banho, assim já não te constipas, vemos filmes e tu recuperas o teu sorriso "desajeitado".

Adoro-te.

Gonçalo Camões
25/04/2010

P.S.
Ca foto mais estúpida!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Nuage.


O meu corpo surge envolto num véu cobrindo a minha essência. A música abraça a atmosfera do meu quarto, sinto-me tão calmo, quase dispenso os meus cigarros. Sabes o que estou a sentir? Sinto-me uma criança, sinto-me como uma criança que foi acalmada pelos pais, estará a minha vida finalmente a endireitar-se? E fico neste alento díspar, por um lado as minhas emoções ditam-me a felicidade, por o outro o meu consciente entra em acção e corrói-me, deixa-me cogitante, faz-me pensar no porquê de haver consequências negativas na vida. E se eu me sentir feliz mesmo que o mundo se abale sobre mim, será isso verdadeiramente um problema?
Soltam-se as palavras pelo ar, elas voam, eu pairo sobre a nuvem e a minha mente adeja até sítios que lhe são distantes. Infantil não é... poucos são os que são capazes de entender o significado de puerícia para mim, afinal é aí que sonhamos quem iremos ser um dia. Imaginamos uma vida para nós, um guia para a segurança, depois as coisas não correm como esperado, mas pelo menos da-mos um jeito, espera-se e luta-se para alcançar o impossível.
Às vezes não interessa se as palavras são desordenadas, o sentimento está presente, estará? O amor não se sente por palavras, o amor é inexplicável, o amor simplesmente sente-se, sente-se por emoções.
Fico agora amparado, mergulho a minha mente no som de um piano que me deixa nu... vês-me?
Quem me dera conseguir dizer amo-te, sem ter medo do resto.

Gonçalo Camões
20/04/2010

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Hope.


Olho para ti... algo não está certo comigo, a minha mente está perturbada pelo teu ser. Repara para mim os acontecimentos que se vão gerando entre nós têm um grande grau de complicação, são sentimentos que envolvem a minha mente num estado de quimera. Porque está a minha mente tão influenciada pelo teu ser?
Estou sentado no metro obervando as pessoas, vejo-as beijarem-se, vejo-as amarem-se, vejo-as a serem humanas. Olho para mim, mas só te consigo ver a ti. Onde estás?
Observo-nos, penso sobre tal matéria, ou seja, nós e pergunto-me «será que a minha vida tem um final igual ao dos filmes? Porque é que tem tudo de ser tão complicado?»
Imagino-nos a correr pela praia, mão dada, expondo o nosso bem-querer, a nossa contenda... olhas para mim e fico preso. Já alguma vez pensaste assim? Profere-me tal palavra mais uma vez, não a mandes simplesmente ao ar demonstra-me que és sincero. Digo-te já o porquê...
Sabes que eu não era assim, não era como sou hoje, frio e distante, era um ser até bastante afável, deixei de ser, mas volto agora ao meu antigo «eu», deixa-me expor-me. Parei, vi-te, fiquei especado, olhando-te, vendo aquilo pelo qual o meu amor se presa, olhas-me e desfaleço, sabes como o teu olhar me deixa enclausurado em ti? Não é só isso, falas comigo as minhas pernas tremem como nos filmes, pareço um desarticulado, uma pessoa que não controla o seu corpo. Eu falo tanto do teu toque, porque será? É a melhor coisa do mundo, é quente, deixa-me arrepiado, faz-me sentir outra pessoa, beijas-me... aí o meu corpo envolve-se num estado de nirvana. Vou usar um cliche... tu inspiras-me. Aliás, este desabafo só por si é um cliche e depois? Eu sinto-o, sinto o que digo, isso não é mais importante? Deixa de ser especial porque é cliche?
Ter-te-ei em breve nos meus braços? O meu corpo espera aqui ansioso, espera por ti, espera pela hora em que no fim te hás-de abarcar comigo.
Olho para ti... caiu a noite, sinto-me sozinho, vem para junto de mim, sabes que eu te quero, estou à espera que deixes de ser um sonho, vem ter comigo, torna-te real.
Olho para ti...

Gonçalo Camões
15/04/2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

Lisboa.


Cheguei a Lisboa faz precisamente quatro dias hoje... alguém me pode levar de novo para o Alentejo? Deixei lá o meu coração. Peço desculpa se magoa tal dito meu, mas é a verdade, aqui eu morro, lá tenho vida.
Tudo me faz confusão, o barulho, os carros, o stress, o tempo passa e parece que não aproveitamos nada, as pessoas são depressivas, ninguém se entende e no final é uma sociedade preconceituosa.
Claro que existem coisas boas aqui, as pessoas que amo também cá estão, tinha saudades delas, tinha saudades de tal ser junto à mim, a sua respiração, o toque dos seus lábios nos meus, isso é bom, mas o resto deprime-me.
Eu julgava que para ter outra vida tinha de sair do país, afinal basta-me andar uns quilómetros.
Agora sinto-me divido, entre Lisboa e a minha amada terra, não nasci lá, mas o espirito alentejano corre-me nas veias. Será mesmo necessário sermos uma sociedade de oprimidos e tristes? Quando é que tal começou a ser bonito?
A minha cabeça em Lisboa perde-se, o fascinio que a cidade exercia sobre mim perdeu-se a partir do momento em que esta me começou a matar e me tornou num ser louco.
Venho do Alentejo com uma cabeça nova, vamos ver se ela se adapta a Lisboa, o que me parece difícil devo confessar.
Ei... toca-me de novo, abraça o meu corpo, abrange as tuas forças em mim, envolve-me a tua atmosfera, eu fico lá, caladinho e sossegado, ninguém tem de saber, fica entre nós, afinal és a única razão porque aqui estou.
Tenho saudades tuas meu Alentejo. Abraça-me de novo.

Gonçalo Camões
13/04/2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Nudity.


O meu corpo nu abraça a terra. Hoje sou diferente, hoje movi-me contra a maré. Exponho-me sem vergonha ao mundo.
Ora, aqui estou sentado, mais uma vez, um pouco fora do normal, a minha corrente sanguinea já bebeu um pouco mais do que devia, suscita-se o meu desejo por outro ser.
Do meu íntimo evoco-te, torno-te o âmago do meu pensamento, espero por ti em meu leito como faço todas as noites, mas tu nao apareces. Não interessa.
Volves o meu corpo todas as noites, nos meus sonhos, na atmosfera que me envolve entre os meus lençóis, acordo de manhã e mantenho-te no pensamento. Tens desejos sobre o meu corpo nu? Deseja-me, Ama-me!
Explica-me porque me deixas este anseio ordinário na cabeça cada vez que me proferes uma palavra? Será ordinário ou o bem-querer que nutro por ti torna-o numa aspiração amorosa?
Ei! Eu não sou fraco, gosto de pecar, dá piada à vida. Tu não me conheces, não como antigo «eu», sem problemas, mas será que me desejarias de outra maneira? Cogito nestas hipóteses, mas pouco me interessa a resposta.
Tenta um bocadinho, talvez decifres os anelos do meu coração... nunca se sabe comigo.
Hoje sou diferente de ontem, não me perguntes porquê, não estou no melhor estado para te responder a tal. Deseja-me, Ama-me!
Dá-me prazer, mostra-me como se faz, envolve-me em ti, não me largues, eu já sou teu!
Hoje estou filosófico na minha mente, é daqueles dias que ninguém me suporta. Queres tentar?
Vou olhar o céu, ver as suas estrelas brilhando, apresentando-me como um sacrifício, abraçando-o, tornando-me seu amado, formando um. Deseja-me, Ama-me!
Fica aqui o meu corpo nu, esperando por ti, será hoje o dia...?

Gonçalo Camões
9/04/2010

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Undisclosed Desires.


Não sabia o que escrever... hoje não havia razão aparente para tal, contudo apetecia-me ditar mais umas palavras sobre a minha pessoa.
A minha mente está presa a acontecimentos passados, relações, vivências, momentos de felicidade. O meu passado está inerte no meu corpo, não consigo exprimir-me de outra maneira, apenas sei que não me liberto dele.
Por norma sou um ser apaixonado, sempre fui, embora hoje seja consumido por uma frieza, por um apartar dos que amo, por um criar de um "eu" misterioso abatido por uma certa loucura...
Percebam houve razões que me levaram a ser o que sou, várias vezes digo que me estraguei, destrui os pedaços de alma bons que me restavam, isto deve-se às acções que tive ao longo dos anos.
Eu falo sobre mim essencialmente, isso todos sabemos, falo sobre as minhas experiências, sobre a minha vida, pelo menos aqui sinto que ninguém me julga.
Hoje prendo-me com palavras que se suscitam na minha cabeça. Haverá algum ser que me ache realmente bonito? Existe alguém que me conheça verdadeiramente? Será que alguém vê para além dos meus olhos? Será que não serei apenas o objecto sexual de alguém cujo o sangue está misturado com substâncias alcóolicas? Terei voltado ao antigo "eu" que apenas se questiona e nunca procura resposta ou é apenas mais um estado passageiro sobre o qual me evidêncio?
Tu olhas para mim, amas-me, envolves-me, eu fico preso, eu amo, mas porque é que tu me amas? Eu descrevo o que sinto, as revoluções que o meu corpo sofre quando se apresenta perante ti, os sentimentos que provêm deste acto, mas qual a razão para isso acontecer? Como é que nos apaixonamos?
Vês algo de belo em mim ou eu sou só mais um ser que idealizas? Eu consigo ser uma fantasia para muitos sem se aperceberem. Quando me vêm amam-me, quando me conhecem abandonam-me como se fosse um sem abrigo, deixam o meu corpo só, nu, desfalecido em desprezo.
Eu sou complicado por norma, tornei-me nisto que vês, terás tu a paciência para aturar os meus devaneios? Se assim é, fica aqui ao meu lado, deita-te no meu leito, prometo não falar mais no meu passado ou pelo menos tentar. Eu desejo-te, amo-te, quero-te, só preciso que o meu corpo seja embutido em teu toque para me sentir completo.
Eu nasci em berço de ouro que se foi desfazendo, tornando-se em prata, em cobre, chegando cada vez mais próximo da ferrugem. Serás tu o ser que me vai impedir de cair?
Cada dia que passa sinto-me melhor aqui no Alentejo, claro que tenho momentos que ninguém me entende, sou assim, amanhã já serei outro.
A minha pessoa reformula-se constantemente, adapta-se as situações, só gostava de poder ter um dia em que a minha alma será uma e apenas uma, poderei viver sem os fanstasmas do passado, mostrar quem sou. Será amanhã esse dia?

Gonçalo Camões
8/04/2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

Nuit.


Eu sou um ser nocturno, para mim tudo seria mais fácil se todos os acontecimentos se passassem durante o astear da lua. Reparem eu adoro a noite, o escuro, o brilhar que as estrelas emanam no céu, transformando-o num dos espectáculos mais bonitos da terra, o desejo que se impõe nos jovens amantes, é a perfeição.
Nas trevas os corpos unem-se, a chama invade-os, consome-os de desejo, paixão, amor e a vergonha vai embora. Não há contacto visual, apenas o toque, somos cegos, o outro ser torna-se misterioso, a descoberta passa pelo tacto, o prazer é evocado e por fim os amados possuem-se. O sexo é a forma física dos amantes expressarem o bem-querer que nutrem um pelo outro.
Chego à cama, está escuro, julgo-me sozinho, contudo quando menos espero sinto tocarem o meu corpo, passando a mão levemente sobre as minhas costas, viro-me, não vejo nada, o meu peito une-se ao do outro ser, mas somos cegos, toco-lhe, tento decifrar o seu rosto, sei quem é, sinto-me consumido por um anseio ardente, os lábios chocam-se, solta-se o beijo, os corpos envolvem-se, arrepios abraçam-me, sinto-me livre, sinto-me desprovido de qualquer ódio, sofrimento, eu amo, sou amado, agarra-me o sexo, possuo tal ser, palavras são trocadas, amo-te, cinge-me, geme, solta-se uma sensação de liberdade, fuma-se um cigarro. Amam-se.
A noite provoca tais emoções, consagra os momentos de paixão em si, a noite livra as pessoas do stress, mostra a verdadeira personalidade de cada indivíduo e para isto não precisam de uma garrafa de vodka na mão, embora esta possa vir a ajudar desde que não seja ingerida em excesso.
A vida é como um filme, tem duração de uma hora e meia, então porque não torná-la mais fácil e comprimir tudo no que melhor existe, fazer da vida um sucesso de bilheteira. A noite ajuda, o cinema é sempre melhor a partir da meia-noite, tem sempre menos gente na sala, ficamos mais à vontade para nos amar-mos.
A minha mente exila-se na noite, fico aqui, apartado do ser por quem o meu bem-querer se reflecte, evocando saudades do seu toque, esperando pela sua chegada no escuro.

Gonçalo Camões
7/04/2010

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Cegueira.


E eis que me sento aqui sozinho na cama. Hoje estou triste, sinto-me abandonado na meu leito, sinto-me deixado por todos, pelos vistos ninguém faz nada por mim e eu já o devia saber, mas não interessa, são devaneios meus.
Estou cego, cego e perdido, consumido por sentimentos que não se demonstram em mim, porque hoje eu sou frio e distante, eu sou mau para as pessoas, mas é a minha protecção, é a minha segurança para que não me magoem. Peço desculpa por isso.
Eu não era assim, a minha pessoa reformula-se, eu sou eu, mas estou bem escondido algures em mim, só preciso que me tirem a casca e que tenham paciência comigo.
Algures no meu passado eu sabia expressar-me sem dificuldade, hoje não, faz-me lembrar alguém. As palavras estão cá, mas a minha boca não as profere. Razão? Não sei, talvez medo, talvez medo de ser incompreendido, porque ainda ninguém atingiu qual é o meu problema.
E eis que aqui estou no Alentejo livre, contudo eu sou confuso e por mais que aqui esteja apetece-me voltar para Lisboa, para aquilo que me mata. Sádico? Não, apenas as saudades apertam.
Fecho os meus olhos e imagino aquele ser envolto em mim, as suas mãos percorrem o meu corpo, deixam-me desprotegido, enquanto os seus lábios tocam a minha pele levemente, sinto a pulsação de ambos, enquanto palavras são soltas, os corpos transpiram, enquanto são possuídos por uma fleuma ardente, envergados por prazer irracional, o ar transpira de cheiros exóticos, os corpos nus, o pescoço cingido pelo ombro de tal ser, o ósculo é solto e eu mostro-me ao mundo, cego, a minha pessoa revela-se, os meus sentimentos são expostos sem misericórdia, mas o meu coração bate de emoção, de certeza, de verdade, de bem-querer.
Disse de minha justiça, aqui exponho-me, este é o meu espaço, tenho saudades de tais emoções, de tais momentos, de tal ser. Chamem-me doido? Não, chamem-me humano!
Agora escuta-me... o toque dos teus lábios deixa-me desarmado, as minhas defesas vão-se, aí tu conheces-me. Oiço a tua voz e o meu mundo é abalado. Deito a cabeça no teu peito e ninguém me pode fazer mal. És tu.
Voltarei para o meu canto, sentado em tal leito, esperando por tal dia, cego de desejo. Esta é a cegueira que me consome.

Gonçalo Camões
6/04/2010


domingo, 4 de abril de 2010

Solenidade Serpense.


Estou completamente extenuado. Hoje foi mais um dia de trabalho, onde porem tive direito a um bocadinho de diversão. Por volta das onze horas, com devida autorização dos meus superiores, enfiei-me num táxi e dirigi-me a Serpa onde decorrem as festas de Nossa Senhora da Guadalupe. Muito sinceramente, pouco me interessa a temática desta romaria, festa é sempre festa, pouca relevância tem para mim se esta comporta algum tipo de caracter religioso.
No caminho para Serpa, essa vila tão modesta, tão bonita e acolhedora, fui observando o céu, tudo estava escuro à minha volta, as únicas luzes presentes eram os faróis do táxi que iluminavam a estrada e as estrelas no céu. De facto era um espectáculo admirante, que tinha ainda mais enfase na minha mente ao ver que nuvens abraçavam a lua, criando uma espécie de fumo incadescente em torno desta. Estas coisas não são possiveis de ver em Lisboa, a cidade tem luz a mais.
Diverti-me como há muito não fazia, andei em diversões, vagueei pelas ruas medievais de Serpa, tirei fotos em lugares de tirar o folgo da beleza que transportavam e observei o fogo de artifício.
O Baixo-Alentejo é provavelmente a região mais agradável de Portugal, pelo menos para mim, faz-me sentir jovem, e acreditem, nunca me sinto jovem e ainda o sou.
Agora vou descansar, amanhã não se trabalha, por isso vou aproveitar e descansar o corpo e a mente.
Obrigado Serpa.

Gonçalo Camões
5/04/2010

sábado, 3 de abril de 2010

Alma Livre.


O Alentejo é realmente um centro de paz. Pus-me a pensar, as pessoas hoje em dia não precisam de ir para clinicas de reabilitação, venham ao Alentejo, não garante cura, mas pelo menos alivia a alma. Eu já reparei que uso muitas vezes a palavra "sinto", contudo eu aqui só venho expressar as minhas impressões relativas ao mundo ou ao mundo que os meus olhos desenham.
Sinto-me bem, longe de Lisboa, longe da minha mãe... sim, a minha mãe que passado sete dias ainda não se preocupou em ligar-me, pelos vistos para ela poderia estar morto, não faria diferença... acho que só vem confirmar o que ela me tinha dito, «tu para mim morreste!», de qualquer forma acho que o sentimento é mútuo.
Estou no meu canto, na minha terra, posso dize-lo, porque aqui todos me abraçaram, todos me fizeram sorrir, pelos menos ainda não tive razões para chorar. Sinto-me como se estivesse em casa e como dizia o outro, «mesmo que estivesse dormindo num palhero, não me importava!».
Aqui a minha vida é simples... simples, mas completa. Aqui ninguém me conhece, aqui ninguém sabe quem é o meu verdadeiro"eu", aqui posso ser quem quiser, sem consequências, posso reformar a minha pessoa, o meu passado está comigo, mas os outros não o conhecem, aqui posso comer boa comida, aqui o ar é saudável, aqui sou independente... quem ler isto há-de pensar que o Alentejo é perfeito, e é à sua maneira. Atenção eu falo-vos do Baixo-Alentejo, não falemos do Alto-Alentejo, porque esse, esse deprime-me e exacerba o meu lado enloquecido.
Acabo de constatar outro facto, aqui não saiu desta terra pequena, desta vila que mais se assemelha a uma aldeia, visto que todos se conhecem, contudo sinto-me mais livre, mais livre do que em Lisboa. Lisboa é uma prisão, é propensa ao estado de quimera, à ilusão, à desilução e ao fracasso do ser humano. Lisboa mata-me, o Alentejo dá-me vida, as pessoas aqui dão-me vida. Tenho menos luxo, mas sou mais feliz.
Agora vou descansar, descansar em harmonia, porque o Alentejo assim me o permite.

Gonçalo Camões
04/04/2010

sexta-feira, 2 de abril de 2010

P.S. I Love You


Sento-me na cama mais uma vez, olho para o relógio, são três e trinta e três da manhã. O meu corpo ver-te lágrimas e dor, sinto-me exausto. Ponho-me aqui a escrever, enquanto vejo um dos meus filmes favoritos, P.S. I Love You. Sabe bem chegar a casa e ter algo reconfortante para ver, apesar de ficar com saudades, dado ao tema do filme, de tal pessoa.
Hoje foi só mais um dia, um dia em que observei a decadência das pessoas quando bebem. Já alguma vez se afogaram num alcóol tão profundo, que parece que o vosso corpo está firme, mas, no entanto, este move-se como se um terramoto se estivesse a abater sobre a terra? Pois é, hoje assisti a isso, e por pouco o coitado do rapaz não foi para o hospital! Será digno chamar-lhe coitado? Afinal foi ele que embebeu o sangue dele em "sumo de cevada e uva"!
Em Lisboa as coisas acontecem, mas a quantidade de habitantes é tão vasta, que as histórias que nela ocorrem, apenas são conhecidas caso o assunto em questão seja colocado em vista num jornal, com grandes letras. Aqui, onde me encontro, o meio é tão pequeno que tudo se sabe, eu pelo menos tenho um par de histórias que poderia contar.
Lá estou eu a chorar, a ver um filme! Os filmes fazem destas coisas, fazem-nos chorar, fazem-nos rir, fazem-nos sonhar, fazem-nos pensar que somos alguém, são uma boa companhia para quando estamos sozinhos.
Sinto falta de muita coisa, é verdade, não irei mentir quanto a este ponto, principalmente sinto falta daquele peito em que deitar a cabeça à noite depois de chegar do trabalho, daquela perna que se envolve com a minha, do aconchego daquele ser que me abraça e me faz sentir protegido e completo. Estou cansado, vou dormir, amanhã é outro dia...

P.S. I Love You

Gonçalo Camões
03/04/2010