sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Gravity.


Eu ponho-me a olhar para a vida, uma vez mais, nas acções que a ela se resumem, nas críticas que a ela são feitas e nos pedaços de história que nela ficam por contar. Chego à conclusão de que o amanhã há-de ser sempre algo involto em mistério sobre o qual muitas premonições recaiem. Não é simples ou congénito, mas assim se aparenta. E nós sonhamos, sonhamos porque essa é a arte que temos para sermos diferentes, porque é na quimera que as nossas maiores e profundas aspirações deixam cair a cortina e a vontade se revela. É isso que nos torna diferentes, que diz quem nós somos. Nós, bem... nós só transpomos o ilusório para o real.
Eu sinto-me diferente e não tenho dúvidas que o desejo de amar é algo potente que nos faz sentir humanos e felizes. E é tão apreciativo, tão beneficiante, torna-nos jovens. Faz de mim um jovem e não o contrário, porque enquanto sonharmos, enquanto não perdermos o desejo por algo, seremos sempre jovens, mesmo que a nossa idade já transpareça um corpo fisicamente débil.
Eu, por exemplo, agarro na caneta e escrevo num pedaço de livro, algo que conta uma história, e, não querendo intrometer-me na mesma, deixo apenas o meu testemunho, as minha emoções, as minhas vivências, deixo a minha história, pode não ser a melhor, mas é a minha e isso nunca, mas mesmo nunca, ninguem me poderá tirar, mesmo aqueles que apenas são passageiros dela.
Seja numa letra desordenada, num jeito sem sentido, numa mistura de ideias vagas e perdidas, num desassossego constante, pelo menos sei que o amanhã, o amanhã vago e imprevisível, pode sempre abraçar um dos meus sonhos, até amanhã...

Gonçalo Camões
14/08/2010

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Obstáculos.


Passamos a vida a tentar ser perfeitos... quando era criança e o meu brinquedo se partia, o mundo dava-me um novo quase de seguida, chorava, mas depois voltava a sorrir, claro isto porque eu tinha essa sorte, outros já não tanto, mas esses outros não viveram no embuste sobre o qual eu estive presente durante muito tempo e agora eles sabem como é a vida e sabem como lutar, eu não, porque ninguém me preparou, até porque a educação é algo que passa de geração para geração, claro que sofre reformas, essas são necessárias, mas há padrões que se mantêm e no meu caso foi o estar habituado a obter coisas facilmente, sem ter de me esforçar por elas, de facto o mimo deve ser o grave problema de uma família que apenas só se preocupa com aspectos fúteis e com o respeito ou o como saber comer a mesa, usar os talheres apropriados ou um registo de língua cuidado.
Hoje sobrevivo sozinho, ando a descobrir a realidade pelo meu próprio pé, até porque a consciência de uns já vai ficando descaracterizada, repare-se na minha figura paterna, afirma que está sem beneficios monetários, que a vida está complicada e temos de nos apertar, temos de tomar decisões e cortar em coisas, pois mais tarde as coisas hão-de melhorar. Eu olho para mim, vejo-me a trabalhar, a dormir pouco, doi-me o corpo, estou cansado, eu olho para ele, sem emprego, afirmando que não tem dinheiro, contudo não o vejo procurar um trabalho, em vez disso vejo-o negar-me boleia para o trabalho sabendo que estou atrasado com a desculpa de que se me levar já não aproveita nada do seu dia de praia, já não tem possibilidade de ir para lugares longinquos em que o sol abunda e as pessoas ficam com a pele escurecida devido às radiações solares, vejo-o pregar-me mentiras dizendo que vai para o Sul para casa de familiares, enquanto vejo fotos do mesmo em locais em que a estadia é paga e que por acaso eu conheço bem, visto que passava lá as minhas férias em criança... ninguém nos prepara para isto, ninguém nos prepara para o engano ou mentira que é a vida.
Como se não bastasse eu tenho de lidar com os meus problemas, tenho de lidar com os problemas que me vão gerando, sim porque eles são a causa prioritária dos meus problemas, uma familia irresponsável, agora eu não tenho vida própria e mais uma vez aos meus dezoito anos, estou irreversívelmente parado no tempo, as minhas aspirações pararam no tempo, pedi ajuda a essas figuras patentes desde a minha existência, pedi apoio e agora o que eu vejo, não é apoio são pontapés atrás de pontapés no cansaço físico e psicológico que se vai abatendo sobre mim.
Eu dou parte de mim aos outros, às vezes esqueço-me de mim próprio só para poder oferecer o meu tempo às pessoas que amo, depois quando descubro coisas chega quase a ser tarde como por exemplo o facto de estar doente, aí já é tarde demais, aí já tenho atenção, mas nem a atenção pode ser suficiente, porque bem eu já tenho dezoito anos, tenho de saber ultrapassar barreiras sozinho, tenho de saber dirigir-me a um hospital sozinho, sim porque as pessoas têm tempo limitado e quando o veternário chama é necessário ir ver como estão os animais, e eu tenho de ir para o hospital sozinho, até porque a vida de um bovino, ultrapassa a vida de um ente familiar.
Onde fiquei eu? Não sei, mas talvez um dia eu diga adeus a tudo e já que estou sozinho nesta luta, comece a lutar pela minha vida em vez de lutar por uma familia.

Gonçalo Camões
6/08/2010

P.S.
Tenho saudades da minha avó, ela dava valor à familia.
6/08/2003 - Estarás sempre comigo avó.
Dedico-te o meu sorriso.

domingo, 1 de agosto de 2010

Ternura descalça.





Os seus pés descalços caminham sobre a areia, lá vai ela, surge com o cabelo ao vento de jeito inocente, as suas feições transparecem alegria... em areia caminho eu, distante de tal lugar, de tal pessoa, sem uma única palavra, provavelmente merecido... e hoje a ferida abre.
Volto-me a perder por enredos que não saram, ficam estagnados num ponto e por mais que a sapiência me tente ajudar a procurar uma resposta, uma direcção não há um fio a que me possa agarrar. Triste.
Ela segue a vida sem palavras, brilha lá noutros lugar distantes em que a alma fica em paz, torno-me monstruoso, sinto-me assim, odeio sentir-me assim, mas a verdade é que errei, agora pago por esse mesmo erro, porque na minha mente tonta e preguiçosa eu acredito no amor, acredito que é possivel apagar o passado, ou melhor aprender com ele e ultrapassar barreiras ou obstáculos, contudo as coisas não me surgem assim. Não vou pedir mais desculpa, o mal foi feito, fez-me crescer, só o tempo dirá como são as coisas, embora eu já esteja a prever o futuro, porque as palavras levou-as o vento.
Ando só nesta praia, divago em histórias, olho o mar, sinto-me em paz, mas ele é tão feio, tão indolente, tão idiota, tornou-se no meu espelho! Não grajeio nada, não me é destinado, pessoas que cometem erros como eu acabam sempre por perder as coisas mais importantes, não é por falta de batalha, eu luto, mas nesta batalha somos dois e a minha palavra não tem credibilidade.
Nestas horas vagas o oceano já não me sorri, ela já não me sorri, o meu sorriso foi-se e a minha vida passa como grãos de areia por uma mão, parece que estou preso num romance em que o final é indesejadamente desafortunado.
Agora já não oiço aquele pequeno sussuro - "Quina Baby" - ou a gargalhada tonta que tanto me faz sorrir, desapareceu ou simplesmente perdeu-se.
O meu medo tornou-se real, pelo menos assim ele se aprensenta, somos amigos, talvez nem tanto, parece que a afugentei.
Vou deixá-la percorrer a praia, eu... eu fico-me pelo dormir, porque pelo menos aí a realidade costuma fugir...

Gonçalo Camões
2/08/2010

P.S.
Amo-te