Meu Deus, estou
estupefacto comigo... como é possível, passaram cerca de dois ou três anos
desde que considero que iniciei a minha vida de adulto lentamente e quanto
mudou.
Há três anos eu não imaginava estar onde estou, nem muito
menos com os objectivos de vida que evoco, provavelmente eu estaria a seguir o
comum da maior parte das pessoas, estaria no meu terceiro ano de faculdade, num
mundo ilusório sem propostas de trabalho para pessoas graduadas, cogitando e
acreditando fielmente que eu estava a destinado a ser grande, pois claro!
Hoje em dia penso naquilo que os outros depositaram em mim,
a esperança, o acreditarem em mim e dizerem “tu podes ter o mundo a teus pés” e
eu interiormente saber “eu posso, basta querer e trabalhar para isso”... agora
não consigo encarar esses seres, tenho vergonha, vergonha da desilusão que eu
vou embutir nos outros como aliás eu sei que é um extraordinário poder que eu
adquiri, aquilo a que os humanos chamam creditar uma pessoa e esta não
constituir capacidades suficientes ou habilidade para concretizar esse feito...
Sou assim em todos os parâmetros da minha vida, cada vez mais tomo como assente
essa contenda em mim, no trabalho, na minha relação, no rumo que eu tomo diariamente
na minha vida social... mas como, como combater isso, quando a questão está no
nosso interior, quando é o nosso Eu que nos atormenta, quando profundamente
sabemos que aquilo pelo qual padece-mos não é transmissível a outros enquanto
nós não soubermos a resposta e enquanto o orgulho assim não o permitir.
Olho para trás, faço analepses da minha vida como se a
caneta com que eu escrevi lentamente fosse perdendo a tinta... au! Esta
doeu. Onde estás tu quando lutavas
contra tudo e todos e dizias “não! eu sou mais! Eu vou e faço e hei-de te
provar que eu sou melhor”, quando muitas vezes eu não sabia se eu o ia
conseguir, mas uma coisa é certa, nunca daria a parte fraca, como aliás raras
foram as vezes da minha vida em que eu cedi, em que eu não concretizei a minha
vontade tivesse de ir contra o ideal de quem fosse. Claro que cheguei a um
ponto em que não aguentei e o meu muro ruiu em contraposto ao de Berlim, mas se
assim não fosse, humano com certeza eu não seria.
Não sou infeliz, pelo contrário, tenho orgulho em tudo o
que vou construindo, nas minhas batalhas ganhas, naquilo que eu tendo vinte e
um invernos já atingi, porque lentamente pequenos fragmentos meus se vão
reunindo e colmatando as minhas feridas de guerra. Por maior que seja o meu
baque cada vez que eu bato contra a parede, quando eu retorno sou mais forte,
chama-se crescer segundo dizem. Claro
que quando contemplamos o nosso passado gera-se uma certa nostalgia, julgamos o
que éramos e o que somos, e no fim disto tudo quando a cortina cai eu
imagino-me como uma peça de teatro em que Sócrates e eu somos protagonistas num
café onde a expressão “só sei que nada sei” ganha todo o seu expoente máximo e,
interiormente, sabemos que esta é toda a condição que representa a vida.
Ninguém nos prepara para o que é ser adulto,
psicologicamente tenho consciência que o choque que tive foi uma batalha
pessoal e abalou psicologicamente a minha estrutura, talvez porque eu sempre
estive habituado a que tudo caminhasse na minha direcção, bastava a minha
presença, como se produzi-se vida em meu redor, contudo isso é efémero e quando aceitamos tal
facto a solidão bate à porta e aqueles seres que acreditamos que estariam
sempre prontos para nos amparar a queda, instantaneamente deixam-nos estilhaçar
como um copo de cristal que se quebra. Agora apreendo isso, apoquenta-me é o
baque dos outros cujo o laço de sangue que nos une é o mesmo. Que esse dia
nunca chegue.
Sinto-me completo e apesar de todas estas questões que
levantei, sou feliz, cada vez mais, sinto-me realizado, tenho alguns pontos
pendentes claro que ainda preciso de ganhar força e dizer a este eu que me atormenta
interiormente que eu vou ganhar, não sei quando vou chegar lá, mas que vou
conseguir vou! Por agora já concretizei parte das minhas aspirações e obrigado
seriamente a todos os que me deram a mão e me ajudaram a atingir os meus
objectivos.
Quem serei eu amanhã...
Gonçalo
Camões
27/01/2013