terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

dor


Nunca pensei que me fosse magoar tanto... sinto-me sozinho, tão só como nunca antes. Há uns meses atrás acreditei em tudo aquilo que era o meu ideal, agora sinto-o deitado no lixo. Porquê? Que tenho eu de errado que tudo foge de mim por mais que eu me esforce.  Sinto-me feito em pedaços como se tudo aquilo pelo qual eu lutei se tivesse quebrado com apenas um toque. Expus-me, dei de mim, deixei conhecer, ofereci-me, falei sobre aquilo que me inquieta no meu passado, todas as batalhas que ganhei, todo o mal que surgiu em mim e agora onde estão as forças que tive nessas alturas. Só me apetece escrever no escuro, onde estou sozinho, numa penumbra e numa dor que não passa, de cinco em cinco minutos as lágrimas correm, porque é que eu mereço isto?
            Tudo aquilo que eu menos queria na vida era ser igual a outros que me puseram aqui, que me trouxeram ao mundo e cada vez me sinto mais parecido com eles, até na forma como reajo, será que não sei mostrar o que quero? Porque é que eu me dou demais, nunca merecem que eu me dê! Quero desaparecer, seria mais fácil, pelo menos escrever acalma-me, posso dizer tudo o que sinto, sem ser criticado, julgado, sem achar que exagero, deixem-me, estou a sofrer e quando é o coração que o dita pouco podemos fazer, só esperar que passe, ai mas a dor é tão forte, quase parece que não vamos sobreviver. Porque deixaste de me amar?
            Olho para trás, para quando correste por mim, não tiveste medo de me perder nessa altura? Não sentiste a minha falta? Porque é que quando me tens te fartas? Eu não sou um objecto.
            Dói tanto, dói tanto que o teu bem-querer por mim se tenha desvanecido, mesmo depois de eu dar tudo o que tenho pela segunda vez. Só quero chorar. Eu já sei como a história acaba.
            Contos de fada são mentiras que nos contam em crianças para nós pensarmos que o mundo é algo agradável, bom, então porque é que os adultos o complicam tanto. De que vale acreditarmos no amor? Quando acaba dói mais do que dois anos de amor, porquê? Parece que nos espetam uma faca no coração e vão torcendo e torcendo até torturar e morrer mos lentamente.
            Só queria que tudo voltasse ao normal, mas cada vez parece mais distante.


Gonçalo Camões
19/02/2012

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Primeiro Plano


            Acabei de ver o filme Silver Linings Playbook que nostalgia me consome ao ver finais felizes e ao perceber que estou triste. Porque é que é tão complicado o amor? Custa assim tanto acreditar, entregar o corpo, entregar a alma, saber que aquela é a pessoa cuja a vida é até mesmo mais importante que a nossa, que daríamos qualquer coisa só para tê-la ao nosso lado. Sinto-me a abdicar de tudo, a abdicar de tudo aquilo em que acredito em nome do amor, em nome do bem-querer que lentamente me vai deixando insatisfeito e consumindo a minha mágoa.
Não escolhemos quem amamos, mas cada vez mais começo a aceitar que os finais felizes só acontecem nos filmes. Quero-te, não te quero... só te quero quando estás longe, gosto de viver sozinho, é a minha independência... mais uma noite sem sono em que as palavras ecoam na minha cabeça. Porquê?
Sempre idealizei ter a minha casa, construir uma relação baseada no sentimento de crença e amor mútuo, de entrega, de fidelidade, de chegar a casa e saber que aquela pessoa está lá à nossa espera no “nosso” sofá, aguardando por nós para nos dar carinho. E onde está esse ideal agora? Porque é que o teu amor não é suficiente ao ponto de me quereres a teu lado de construirmos algo nosso? Onde é que está a piada de construir tudo sozinho e quando queres estarmos juntos.
Olho para a casa onde agora escrevo, nas fotografias penduradas na parede representado momentos de felicidade, olho para esta casa construída com amor e carinho, olho para a cama que agora partilhamos e que chega a noite sabe ter-te ao meu lado e saber que estás aqui, onde está isso agora? Sinto tudo colocado no lixo do dia para a noite como se nunca tivesse acontecido. Tanto que isto me magoa, tanto que isto me afecta, tanto que me corrói e não posso falar porque o meu amor por ti fala mais alto. Que raiva! Será que sonho assim tão alto?
Queria que uma vez na vida fosses homem com h maiúsculo e não te reduzisses às atitudes infantis de achares que uma relação é perfeita porque estamos separados. Queria que uma vez na vida dissesses quero-te aqui comigo ao meu lado, fica comigo porra, em vez de apenas ficares. Sinto-me um segundo plano. Nunca vou ser o teu primeiro plano não é? É demasiado para ti tamanho compromisso. Nunca te impedi de nada, não percebo porque é que me pões tão à parte como se eu fosse um entrave aos teus objectivos. Sou o primeiro a dizer-te vai, faz.
Se calhar só assim vais aprender que mais tarde ou mais cedo as decisões que tomamos na nossa vida têm consequências e que à escolhas que uma vez tomadas não têm retorno.
Cada vez me enfraquece mais o meu bem-querer de tão minado que o estás a deixar, nem os teus olhos de tristeza e preocupação comigo me enganam, estás preocupado porquê? É isto o que tu tanto anseias, é tudo o que queres, afirmas que não consegues viver no meu ideal, eu só tenho pena do ter idealizado contigo e por me ter entregue desta maneira a ti, porque agora sim, sei que não me mereces.
Dorme agora e descansa, amanhã talvez seja tarde demais.

Gonçalo Camões
5/2/2013

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Insónia


            Extensa vai a madrugada e os meus olhos não se cerram, que tormento é este que me predomina, porque é que a minha alma divaga, continua a divagar e não me dá alento. O silêncio instalou-se... longe, mas tão perto ecoam as vozes dos que já sonham. Quem sou eu?

            Extraordinária é a vida cuja sua concepção ainda não apreendi, contudo aparenta-se a uma força da natureza, tão certa e tão incerta, contraditório de facto. Vaguei-o. Num momento vivemos o esplendor, a grandiosidade, toda a epifania do que os comuns mortais dizem ser a felicidade e esta dissipa-se como se o vento tivesse acabado de passar no deserto. Que inconstância, porque será tão difícil manter a felicidade, porque é que tudo o que é bom custa a alcançar, porque é que ainda estás aqui, é o amor?
            Que fado o meu... oh sono onde estás? Onde te perdi? Procuro respostas, mas tudo me parece tão vago, tão dúbio... onde estão as tábuas frouxas sobre as quais os meus pés caminham? 
            Imagino-me num teatro, como se chamaria a peça? Talvez o “solitário”... não demasiado vitima... talvez o “monólogo do desgraçado”... pior ainda, já chega de teres pena de ti próprio, acorda... acordado já tu estás de facto. Sono vem a mim! Teatro, exacto, que saudades que eu tenho, palco, sim integra toda a minha pessoa, realização onde andas? Ui! Mas que quimera desenfreada! “Esta barca, esta barca onde vai ora que assi está apercebida?” como me recordo, diria tal excerto de trás para a frente como se as palavras a mim tivessem sido incutidas à nascença. Nascer! Eis a verdadeira concepção de tudo, porque é que nascemos, que egoístas que somos ao ponto de existirmos e termos uma vocação no mundo, porquê? Qual o propósito, porque é que temos de ser alguém, porque é que temos de amar, porque é que temos de sofrer, porque é que temos de sentir? Ridículo! Oh olhos dilacerados que falam!
            Já dizia Studd “Não se conhece o homem pela sua animação, mas pela quantidade de sofrimento verdadeiro que ele é capaz de suportar.” Quanta verdade está embutida nestas palavras, se a mágoa fosse tatuada no nosso corpo, não haveria pele suficiente para marcar tantas passagens.
             Encorajo outros para que olhem em frente e sigam o seu rumo, mas não me consigo libertar do passado... quando penso que este já se disseminou, volta no seu Cavalo de Tróia e como a história reza nós nem nos apercebemos que este nos acabou de atacar. Que inferno!
            Aguardo-te sono, tira-me esta ânsia e deixa-me por fim descansar, firma-me este suplício...
            As horas passam, o relógio parou.

Gonçalo Camões
2/2/13