
Extraordinária é a vida cuja sua
concepção ainda não apreendi, contudo aparenta-se a uma força da natureza, tão
certa e tão incerta, contraditório de facto. Vaguei-o. Num momento vivemos o
esplendor, a grandiosidade, toda a epifania do que os comuns mortais dizem ser
a felicidade e esta dissipa-se como se o vento tivesse acabado de passar no
deserto. Que inconstância, porque será tão difícil manter a felicidade, porque
é que tudo o que é bom custa a alcançar, porque é que ainda estás aqui, é o
amor?
Que fado o meu... oh sono onde
estás? Onde te perdi? Procuro respostas, mas tudo me parece tão vago, tão
dúbio... onde estão as tábuas frouxas sobre as quais os meus pés caminham?
Imagino-me num teatro, como se
chamaria a peça? Talvez o “solitário”... não demasiado vitima... talvez o
“monólogo do desgraçado”... pior ainda, já chega de teres pena de ti próprio,
acorda... acordado já tu estás de facto. Sono vem a mim! Teatro, exacto, que
saudades que eu tenho, palco, sim integra toda a minha pessoa, realização onde
andas? Ui! Mas que quimera desenfreada! “Esta barca, esta barca onde vai ora
que assi está apercebida?” como me recordo, diria tal excerto de trás para a
frente como se as palavras a mim tivessem sido incutidas à nascença. Nascer!
Eis a verdadeira concepção de tudo, porque é que nascemos, que egoístas que
somos ao ponto de existirmos e termos uma vocação no mundo, porquê? Qual o propósito,
porque é que temos de ser alguém, porque é que temos de amar, porque é que
temos de sofrer, porque é que temos de sentir? Ridículo! Oh olhos dilacerados
que falam!
Já dizia Studd “Não se conhece o
homem pela sua animação, mas pela quantidade de sofrimento verdadeiro que ele é
capaz de suportar.” Quanta verdade está embutida nestas palavras, se a mágoa
fosse tatuada no nosso corpo, não haveria pele suficiente para marcar tantas
passagens.
Encorajo outros para que olhem em frente e
sigam o seu rumo, mas não me consigo libertar do passado... quando penso que
este já se disseminou, volta no seu Cavalo de Tróia e como a história reza nós
nem nos apercebemos que este nos acabou de atacar. Que inferno!
Aguardo-te sono, tira-me esta ânsia
e deixa-me por fim descansar, firma-me este suplício...
As horas passam, o relógio parou.
Gonçalo Camões
2/2/13
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