Apetece-me gritar, mas não posso...
Não controlo remanescências do passado
Aquelas que se evocam na apoquentação
Na memória de vocábulos dissolvidos
Apetece-me gritar, mas não posso...
A culpa parece uma interjeição inteligente
O desdém conquista a batalha
A desculpa não inspira condolências
Por caminhos ébrios surge a palavra
Aquela que se espera, contudo falaciosa!
O ser errante assisa dissonante...
Apetece-me terminar com os cigarros,
Aqueles que outrora existiam sobre a mesa
Foram consumidos pela inquietude...
Em mim jaz o silêncio dos arrependimentos
Apetece-me chorar, mas não consigo
Apenas escrevo sobre linhas tortas
Escutando o fragor envolto em lençóis,
Aí preserva-se a tranquilidade de outro!
Prevalece a insegurança de quem escreve
Em palavras arcaicas proferidas por outro
No entanto invocadas pela mesma sobriedade
Aquela que desvanece com o tempo
Apetece-me...
Gonçalo Camões
18/07/2020