domingo, 25 de setembro de 2011

Insónia.


Já perdi noção das horas, mas ficam vagas e escassas, porque o sono esse já se foi. Caiem, caiem e não param, dói-me.
Não consigo se não escrever, alivia-me.
Sinto saudade, saudade de tudo aquilo que nasceu, saudade de todos os tempos em que a porta se abria e num sorriso inocente me cumprimentava.
A serra lá no alto, acolhia o bem-querer que ia florescendo no meio das casas arcaicas que por ali surgiam misturando-se com a profunda e densa vegetação, estava frio, muito frio e na casa amarela onde outrora histórias se contaram, comia-se.
O frio surge sempre com outros odores, com aquela humidade que embute as pessoas a darem cada pedacinho de si ao outro, a fazerem a dita "conchinha". O frio aquece os amados, que para se protegerem de tal façanha se entregam.
Tenho saudades do vislumbre do mar no dia do meu nascimento, de tal vista que a meus olhos tão chocolate parecia, talvez estivesse equivocado e observa-se outra coisa tão densa e profunda como o oceano que de igual modo me chamava a atenção, mas sentia-me preenchido, sentia-me completo, seguro, sabia que nada nem ninguém me poderia magoar.
São palavras soltas, tão soltas e sem sentido, mas que na minha mente fazem perfeito sentido e me levam a soltar lágrimas, porque não me apetece se não chorar.
Nem sempre somos fortes, nem sempre mantemos a mesma postura, nem sempre nos aguentamos, há coisas que nos tocam sobre as quais não temos posses, não fruimos controlo, elas apenas evocam-se e as barreiras que nos aguentam quebram-se. Sinto-me inseguro, com medo neste meu canto, tão vago e tão só, nem escrevo direito.
É escasso o seu toque e frases ecoam na minha cabeça, apenas me apetece voltar ao primórdio de tudo, aquele momento em que tudo me sorriu e não ficar nesta ânsia que me dá insónias.
Hoje não é o meu dia, hoje não me apetece enfrentar o mundo lá fora, a minha barreira quebrou-se!

Gonçalo Camões
26/09/2011

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Tempo.


Passam tempos em que o tempo a mim nada me diz e fico estático observando o seu temperamento e aquilo que ele vai moldando, criando, aperfeiçoando e dando vida. Sentado no banco da cozinha, fumando um cigarro passivamente, dou por mim a ver as horas passar num fio eloquente.
Meses antes estaria eu numa vida pouco sóbria, boémia, pouco dada a responsabilidades e muito pouco realista, agora observo-me e reflicto sobre cada particula do meu ser.
Existem alturas em que estamos sós, em que estamos rodeados de pessoas, mas que essas pessoas apenas nos transmitem solidão, agora sinto-me seguro, abraçado por quem me deseja, me acolhe e me dá conforto, me dá força e vontade de lutar pelos meus sonhos, por aquela quimera que em tempos começou a desvanecer do meu pensamento.
Pouco tenho feito, o tempo é algo precioso ao qual muitas vezes não tomamos a devida atenção, escassas palavras me têm fluido, escassos são os momentos em que pondero sobre questões que até então me tinham sido pertinentes. São gestos que mudam, afeições que me fazem voltar a recriar o que antes senti, o que estava sepultado, aquilo que estava perdido.
Faltava-me amor, faltava-me o que me fazia vir ao de cima, estava desprovido de qualquer vontade, tudo mudou, regenerou-me.
É quase irónico o quanto um ser pode fazer por nós, quanta atitude nos pode ser incutida, é tudo tão relevante e por vezes nem da-mos por isso, esquecemos ou não se dá aso as acções, não cogitamos sobre tais questões.
Hoje estou feliz, nesta persuasiva perspectiva em que o bem-querer renasce e nos dá alento.
Obrigado.

Gonçalo Camões
2/9/2011