quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Life in a motion.


Foco-me noutros pensamentos, noutras almas que me ditam o humor e em perspectivas de vida que vejo serem cada vez mais distantes.
Sei o que quero, tenho consciência das decisões que tomei, do rumo que elas levam, apenas me parece que algumas das minhas hipóteses para o futuro vão sendo adiadas, estou a ficar exausto outra vez e não sei como não bater no fundo.
Odeio mil e uma partes da minha vida, não coisas relativas a mim, apenas coisas sobre as quais não fruo controlo, coisas que me são alheias, mas que me envolvem como um todo, vou por arrasto...
Sinto-me a perder as forças, sinto-me a perder a confiança e a fé nas pessoas, a ver que cada palavra embutida em apoio, ajuda, amor, entre tantas outras coisas, são puras falsidades.
Olho pela janela e o dia já não me sorri, apenas a noite me abraça, mas esta não me deixa contemplar a pureza das pessoas, esconde os seus sentimentos, esconde a sua verdadeira raça, aquilo de que são feitos.
Vejo a minha familia a definhar, a morrer aos poucos, a ser uma presença constante, que tanto se ausenta. Triste.
Apetece-me fugir como não me apetecia à tanto tempo, parecia que essas memórias já se tinham tornado em algo erudito, enganei-me, voltaram em força, desta vez estão-me a moer, quero ficar longe daqui e de tudo o que me rodeia, anseio pela solidão.
Bafos quentes de cigarro fogem pela janela e prevêm o rumo das próximas horas, nesta sala em que a baixa e fraca iluminação tentam esconder impurezas, estados de alma, apenas se sente o odor a perfume misturado com o cheiro a tabaco.
Preciso de sair daqui, esquecer o meu pai e a minha mãe, ficar sozinho no meu pensamento, reflectir sobre o meu futuro.
Está vazia a casa, estou só, restam apenas memórias, memórias de tempos felizes, memórias escritas numa parede, palavras que contam histórias, caras e sorrisos esquecidos em quatro cantos, fotografias e uma pilha de livros... que saudades. Ainda aqui estou sozinho, mas a casa já não tem os mesmos cheiros, no corredor já não se sente a mesma alegria de ver as pessoas a entrar pela porta, a casa vai-se degradando e ainda agora reflectindo nos maus momentos, nas cenas horriveis de discussão ou nas pancadas fortes que se ouviam, no cheiro a alcool que invadia a minha casa a altas horas da manhã, posso afirmar, fui feliz aqui. Aqui amei e fui amado, aqui descobri coisas sobre mim que nunca havia cogitado até então, aqui dormi com quem mais amei, aqui fizeram-se histórias, fizeram-se amizades, tiveram-se conversas a altas horas da madrugada, namorou-se, tornou-se um refúgio... agora diz-se adeus. Aqui fiz uma das coisas que me dá mais alegria, ri verdadeiramente.
Solene dor me agarra hoje, tudo cai, desaba aos poucos, desfaz-se, corrói-me a alma!
Quero chorar, não consigo... vou dormir. A porta fechou-se.

Gonçalo Camões
25/11/2010

2 comentários:

  1. Grande desabafo da realidade que nos dias de hoje é uma constante de vida... Never look back! Desculpa a invasão.

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  2. Revejo-me em muitas partes destas palavras. Continuação de boa escrita :)

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