quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Obstáculos.


Passamos a vida a tentar ser perfeitos... quando era criança e o meu brinquedo se partia, o mundo dava-me um novo quase de seguida, chorava, mas depois voltava a sorrir, claro isto porque eu tinha essa sorte, outros já não tanto, mas esses outros não viveram no embuste sobre o qual eu estive presente durante muito tempo e agora eles sabem como é a vida e sabem como lutar, eu não, porque ninguém me preparou, até porque a educação é algo que passa de geração para geração, claro que sofre reformas, essas são necessárias, mas há padrões que se mantêm e no meu caso foi o estar habituado a obter coisas facilmente, sem ter de me esforçar por elas, de facto o mimo deve ser o grave problema de uma família que apenas só se preocupa com aspectos fúteis e com o respeito ou o como saber comer a mesa, usar os talheres apropriados ou um registo de língua cuidado.
Hoje sobrevivo sozinho, ando a descobrir a realidade pelo meu próprio pé, até porque a consciência de uns já vai ficando descaracterizada, repare-se na minha figura paterna, afirma que está sem beneficios monetários, que a vida está complicada e temos de nos apertar, temos de tomar decisões e cortar em coisas, pois mais tarde as coisas hão-de melhorar. Eu olho para mim, vejo-me a trabalhar, a dormir pouco, doi-me o corpo, estou cansado, eu olho para ele, sem emprego, afirmando que não tem dinheiro, contudo não o vejo procurar um trabalho, em vez disso vejo-o negar-me boleia para o trabalho sabendo que estou atrasado com a desculpa de que se me levar já não aproveita nada do seu dia de praia, já não tem possibilidade de ir para lugares longinquos em que o sol abunda e as pessoas ficam com a pele escurecida devido às radiações solares, vejo-o pregar-me mentiras dizendo que vai para o Sul para casa de familiares, enquanto vejo fotos do mesmo em locais em que a estadia é paga e que por acaso eu conheço bem, visto que passava lá as minhas férias em criança... ninguém nos prepara para isto, ninguém nos prepara para o engano ou mentira que é a vida.
Como se não bastasse eu tenho de lidar com os meus problemas, tenho de lidar com os problemas que me vão gerando, sim porque eles são a causa prioritária dos meus problemas, uma familia irresponsável, agora eu não tenho vida própria e mais uma vez aos meus dezoito anos, estou irreversívelmente parado no tempo, as minhas aspirações pararam no tempo, pedi ajuda a essas figuras patentes desde a minha existência, pedi apoio e agora o que eu vejo, não é apoio são pontapés atrás de pontapés no cansaço físico e psicológico que se vai abatendo sobre mim.
Eu dou parte de mim aos outros, às vezes esqueço-me de mim próprio só para poder oferecer o meu tempo às pessoas que amo, depois quando descubro coisas chega quase a ser tarde como por exemplo o facto de estar doente, aí já é tarde demais, aí já tenho atenção, mas nem a atenção pode ser suficiente, porque bem eu já tenho dezoito anos, tenho de saber ultrapassar barreiras sozinho, tenho de saber dirigir-me a um hospital sozinho, sim porque as pessoas têm tempo limitado e quando o veternário chama é necessário ir ver como estão os animais, e eu tenho de ir para o hospital sozinho, até porque a vida de um bovino, ultrapassa a vida de um ente familiar.
Onde fiquei eu? Não sei, mas talvez um dia eu diga adeus a tudo e já que estou sozinho nesta luta, comece a lutar pela minha vida em vez de lutar por uma familia.

Gonçalo Camões
6/08/2010

P.S.
Tenho saudades da minha avó, ela dava valor à familia.
6/08/2003 - Estarás sempre comigo avó.
Dedico-te o meu sorriso.

3 comentários:

  1. este texto esta lindo amor!
    faz pensar e ver que temos de lutar sempre, eu tambem sempre fui muito apaparicada e sempre tive tudo mas na verdade isso não vale de nada porque as coisas importantes sao escondidas e vivemos num mundo onde tudo parece um conto de fadas.quando chegamos a uma certa idade esse mundo desaparece e somos obrigados e suportar outra realidade.

    beijo Susana

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  2. gosto dos textos, continua.
    passa pelo meu :)

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  3. Sabes, a "família" é como um prédio de habitação social:
    No início, na fase de elaboração do projecto, é tudo bastante belo, inovador e simples. Terminados os esquissos e fundações da obra, começam a surgir problemas! Problemas "inocentes" ... problemas que à partida, e a um primeiro olhar, nos parecem insignificantes. Contudo, quando a obra e concluída e se prepara para ser habitada por outros que não aqueles que lhe "deram à luz", este inicia uma fase de desgaste, de saturação. Até ao dia em que esses "outros" o deixam - só, abandonado perante tudo e todos, perante os milhares de partículas resultantes de sua perpétua e triste destruição. Condenado ao esquecimento. Condenado ao seu destino já pré-fabricado.

    O meu "prédio" ainda se mantém de pé. Firme e erguido como aquando os deuses tomaram posse de Olimpo. Belo o monte que cresceu sobre nossos tímidos olhares. Tive sorte!
    Não deixes que essas tuas primeiras fundações te construam um futuro perdido! Não deixes...
    No entanto, dar-te-ei um conselho baseado pela minha própria vivência:

    OS AMIGOS SÃO AS NOSSAS MELHORES FUNDAÇÕES! SÃO, E SEMPRE O SERÃO, porque os amigos são eternos, belos e cegos! São lindos...

    Agarra-te a eles! Agarra-te a ti! Agarra-te a esse teu prazer ilimitado oculto em teu pensamento interior... Agarra-te e ergue-te perante os "desgastes provados pelo Tempo"!...

    Desejo-te o melhor. Desejo-te o desconhecido ;)

    Beijos/Abraços
    E.R.

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