quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ne me quittes pas


Mergulhei na penumbra... as oscilações vagas que eludibriavam a minha mente prendiam-se com locais longinquos que, já Mário de Sá-Carneiro tanto analtecia. Fiquei parado observando as horas, tentando entender no meu cansaço disfarçado quanto tempo faltaria e nessa ansiosa espera cogitava de como seria o primeiro momento, o primeiro toque, a primeira vez em que voltaria a sentir o seu cheiro, o cheiro daquele perfume adocicado sem álcool.
Cento e sessenta e três dias... cento e sessenta e três dias impaciente nesta amostra de amor que o meu coração luta por te dar, nesta esperança que tenho que tu apareças também, neste mistério que só eu e tu sabemos. E quando os foguetes rebentarem, será como a celebração que devia ter ocorrido este ano, sozinhos, acabando com o luto que temos por uma relação, recriando o nascimento da mesma.
Lá nas nuvens envolto em felicidade nervosa, tendo medo de não saber como se faz, como vai ser, cogitante na forma como os nossos lábios se tocarão, no primeiro ósculo após tanto tempo, ficarei observando as luzes de tal cidade que me é estranha, enquanto nos meus ouvidos se lança a voz de Piaf no roubo da canção "Ne me quittes pas".
No meio de sonoridades que quase me são desconhecidas, digo-te em algo que compreendo, solto levemente, embutido em teus braços, solta-se... amo-te.
Longe ficam outros e o nós unifica-se, sozinho, o nós vai passeando pelas ruas, dando as mãos, beijando-se, acariciando-se, ficando mais junto no frio, observando a paisagem, evocando-se na luz da paixão.
Espero, espero e espero, sem problemas... só quero que chegue o dia, o dia da nossa liberdade, noutro lugar, pois aqui não nos a dão.
Ate amanhã mon amour...

Gonçalo Camões
16/07/2010

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