sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Insónia


            Extensa vai a madrugada e os meus olhos não se cerram, que tormento é este que me predomina, porque é que a minha alma divaga, continua a divagar e não me dá alento. O silêncio instalou-se... longe, mas tão perto ecoam as vozes dos que já sonham. Quem sou eu?

            Extraordinária é a vida cuja sua concepção ainda não apreendi, contudo aparenta-se a uma força da natureza, tão certa e tão incerta, contraditório de facto. Vaguei-o. Num momento vivemos o esplendor, a grandiosidade, toda a epifania do que os comuns mortais dizem ser a felicidade e esta dissipa-se como se o vento tivesse acabado de passar no deserto. Que inconstância, porque será tão difícil manter a felicidade, porque é que tudo o que é bom custa a alcançar, porque é que ainda estás aqui, é o amor?
            Que fado o meu... oh sono onde estás? Onde te perdi? Procuro respostas, mas tudo me parece tão vago, tão dúbio... onde estão as tábuas frouxas sobre as quais os meus pés caminham? 
            Imagino-me num teatro, como se chamaria a peça? Talvez o “solitário”... não demasiado vitima... talvez o “monólogo do desgraçado”... pior ainda, já chega de teres pena de ti próprio, acorda... acordado já tu estás de facto. Sono vem a mim! Teatro, exacto, que saudades que eu tenho, palco, sim integra toda a minha pessoa, realização onde andas? Ui! Mas que quimera desenfreada! “Esta barca, esta barca onde vai ora que assi está apercebida?” como me recordo, diria tal excerto de trás para a frente como se as palavras a mim tivessem sido incutidas à nascença. Nascer! Eis a verdadeira concepção de tudo, porque é que nascemos, que egoístas que somos ao ponto de existirmos e termos uma vocação no mundo, porquê? Qual o propósito, porque é que temos de ser alguém, porque é que temos de amar, porque é que temos de sofrer, porque é que temos de sentir? Ridículo! Oh olhos dilacerados que falam!
            Já dizia Studd “Não se conhece o homem pela sua animação, mas pela quantidade de sofrimento verdadeiro que ele é capaz de suportar.” Quanta verdade está embutida nestas palavras, se a mágoa fosse tatuada no nosso corpo, não haveria pele suficiente para marcar tantas passagens.
             Encorajo outros para que olhem em frente e sigam o seu rumo, mas não me consigo libertar do passado... quando penso que este já se disseminou, volta no seu Cavalo de Tróia e como a história reza nós nem nos apercebemos que este nos acabou de atacar. Que inferno!
            Aguardo-te sono, tira-me esta ânsia e deixa-me por fim descansar, firma-me este suplício...
            As horas passam, o relógio parou.

Gonçalo Camões
2/2/13

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