terça-feira, 16 de março de 2010

Educação Queirosiana.


"Diz-me a mãe que tiveste, dir-te-ei o destino que terás!"
Eça de Queiroz


Vejo-me petrificado. Algo abalou o meu mundo num espaço de segundos. Teria Eça razão? Se assim é, somos uma geração perdida, eu estou perdido.
A figura materna é algo realmente importante, é aquele ser com quem temos uma primeira ligação, com quem iniciamos a nossa vida, com quem aprendemos a ver o mundo.
No meu caso, as coisas não funcionam assim, o laço quebrou-se. Desde há muito tempo que tenho um corpo presente a quem chamo mãe a habitar comigo, contudo evoco o seu espírito e ele não consta do registo. No seu registo, está, sim, descrito um quadro psiquiatrico ligado a depressões, a maus tratamentos médicos, a comportamentos de carácter agressivo e bipolar. Segundo este preceito, eu digo, cada vez mais me pareço com ela.Terá este facto a ver com a Educação?
Eu gostava de ser normal, ou melhor, ter uma família normal em que todos se apoiam mutuamente, uma família que não parece estar condenada a um final trágico.
A semelhança àquele ser que me amamentou em criança dimane de dia para dia em mim, estarei condenado à mesma solidão, à mesma tristeza. De certa maneira acho que sim, porque o brilho que provinha dos meus olhos desaparece com a idade e o meu sorriso fica exacerbadamente amarelo.
Eu sinto-me doente. Observo-me e vejo-me nela. Deitada na cama, no escuro com um maço de cigarros junto a ela e a cabeça enfiada na almofada. Eu não quero ser assim! Estarei condenado a tal realidade?
A mãe é realmente importante, o pior é quando ela não existe e, atenção, para tal acontecer não precisamos ser orfãs.
Há uma coisa que me faz confusão. Queixo-me dela, dos seus actos de inconsciência, da sua aspiração por coisas futeis, de se esquecer de coisas que pesam na vida, da sua preguiça, de sentir que, às vezes, sou maltratado, mas não consigo viver sem ela.
Eu estou a falar de uma mãe, mas no íntimo acho que tenho consciência de que no fundo não sei o que é uma mãe. Esse papel sempre me coube a mim em relação a outros seres.
Peço agora para que Eça se engane, que ele não me diga o meu destino, porque esse já eu o temo. Digo antes... dir-te-ei quem sou, quando um dia souber o que é uma mãe.

Gonçalo Camões
11/03/2010

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