segunda-feira, 22 de março de 2010

We Might As Well Be Strangers


"Eu tive-te como um amante, e nós ignoramos, pela primeira vez os outros..."
Marta Isabel Martins Clington

Sentei-me no comboio. A minha mente vagueava por sitios distantes, enquanto a estação de Entrecampos ficava para trás. Recordava agora momentos que já fazem um ano em que eu ficava a olhar para ti à janela e a ver o teu comboio partir ou vice versa. Como é possível ter sido à um ano? De súbito uma mão estranha surgiu na minha frente, um indivíduo de ar desgrenhado, estrábico e um tanto ou quanto assustador, apertou-ma acompanhando este passo de um «tenho um bom dia meu jovem!», a seguir prosseguiu a sua viagem fazendo o mesmo com o resto das pessoas presentes na carruagem, sempre sorrindo, até mesmo àqueles que lhe recusavam o gesto. Eu tinha dormido pouco, estava cansado, contudo aquele pequeno trejeito tinha feito a diferença, tinha-me feito sorrir, abstrair-me da minha vida. Como é que é possível, e não querendo fazer uma avaliação baseada no aspecto das pessoas, que aquele homem, cuja vida parecia tão mais miserável que a minha, fosse sorrindo e contando piadas ao longo de carruagem a completos estranhos, e ali estava eu completamente preso ao passado, remoendo as minhas aflicções, pensando nos meus actos. Um dia ela dissera-me «tu pensas demais», provavelmente sempre teve razão. Questiono-me, mas parece que não procuro a resposta, deixo no ar à espectante que alguém me diga o seu ponto de vista.
Doze meses depois ainda aqui estou e contínuo a achar que embora as coisas sejam diferentes, ninguém me conhece melhor que ela. Provavelmente contínuo preso naquele momento, porque foi dos momentos mais felizes da minha vida, sentia-me completo, sentia-me amado, sentia que tudo era perfeito, e até as discussões que tinhamos serviam para fortalecer o que nutriamos um por o outro. Nunca mais tive isso, talvez porque também nao quiz.
Éramos ambiguamente complicados, mas conhecia-mos os limites de cada um e um suportava o outro. Desde tal dia a minha escrita nunca mais foi a mesma, perdi aquilo que tinha, decisão minha claro, ainda hoje penso se não foi estúpida, mas a vida segue.
Ainda me lembro das "cartas" trocadas a longa distância e daquela incessável dor que se abatia, porque o toque era impossível. Relação como a nossa não havia, digna de um filme, como aquele momento no aeroporto em que os teus braços me envolveram e o teu corpo ficou sobre o meu, enquanto os nossos lábios se tocavam.
"Sentes falta do meu cheiro? Será ela negra o suficiente para ver a tua luz? É suficientemente louca para te ter? Sentiste-te alguma vez triste por nos termos separado? Alguma vez viaja a tua mente a um daqueles dias de Verão em que te beijava? Esteve alguma vez o teu coração coberto de dor? Será que devo voltar? Diz-me amor, sentes-te só? Tiveste-me como uma amante, e usámos lençóis para cobrir esta forma eunuca da nossa desgraça, as nossas mentes pressionadas enquanto a nossa carne ignorava a falta de espaço." Devo responder-te a estas questões, ou alguma vez o teu coração soube a resposta? Foste o meu primeiro tudo. Por alguma razão ainda choro cada vez que leio estas palavras. Apostas-te em mim quando mais ninguém o fez, e estás para sempre marcada em mim. Não escondo quem és, nem quero esconder, tenho orgulho em ti, foste a menina dos meus olhos.
Tantas histórias, tantos momentos... tanta palavra dita, eras tu a minha inspiração.
Agora digo-te, embora estejas «miles away» estás guardada em mim.

Com muito amor,
Gonçalo Miguel Costa Palma Camões Quina

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