quinta-feira, 29 de abril de 2010

Reflexo.


Descia... lá passava ele pelos candeeiros que se expandiam pela avenida fora, despreocupado fumava o seu cigarro pensativo, envergando por atalhos... era seu hábito, queria chegar a casa o mais depressa possível. Observava aquele ser todos os dias, o seu andar, os óculos de sol que, por vezes, escondiam os seus olhos cobertos pelo manto negro das olheiras, o arrastar das mãos, na realidade parecia um autentico manequim a andar na rua. Por vezes um olhar curioso espreitava sobre si, mas continuava alheio a isso.
Eu era o seu principal seguidor, especulava minuciosamente cada movimento seu, a razão não me vinha à cabeça, talvez quisesse ser como ele, intensamente descontraído.
De súbito vieram-me questões à cabeça... mas porque raio, porque raio havia eu de ser tão nervoso, tão absorvido em cógitos que não merecem tanta atenção, porque não havia eu de ser mais egoista? Seria errado moralmente? Olhava para ele e tudo parecia fácil, se calhar até era. As soluções são fáceis, nós é que tendemos a gerar complicações. Cliché!
A noite caíra, perdera aquele ser na escuridão, engolido pelas sombras da noite. Sem luz não há reflexo.
Quando dei por ela lá me olhava eu ao espelho, seria eu? Que medo, em que me tinha eu tornado. Embebi o meu cérebro em pensamentos usuais, tomei uma decisão. Quero aproveitar a vida, se magoar pouco me importa, vou chegar onde quero, agarrar-me mesmo que saiba que posso sofrer as consequências, mesmo que uns me esqueçam, mesmo que me usem, mesmo que magoe outros, vou ser egoista, mas ter compaixão, vou ser radical, mas moderado, não cheguemos a cepticismos, afinal acredito que algo nesta vida há-de ser concreto... vou amar, vou ser amado, vou desistir e resistir, vou ser feliz. Quem me vai impedir? Tentem, testem-me, façam-me sofrer... no final quem perde não sou eu. Vou chorar sempre que vir um filme, vou rever a minha vida num livro através de uma personagem, vou dar-lhe a mão quando vir o filme da minha vida, qual deles será?
Olhei... o espelho continuava lá.

Gonçalo Camões
30.04.2010

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